domingo, setembro 30, 2007
Friso "Azulejaria"
O Friso da AAG, agora colocado no exterior da Oficina, conta a história de Luís Cruz Guerreiro, desde 1976 até agora, num Friso em que utilizou diversas técnicas cerâmicas de pintura em Azulejos. Começa com o lápis cerâmico, vidrado com vidro transparente e com colagem das letras a Alta Temperatura, vidradas com vidrado branco. A narrativa é a da BD/HQ.
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The Frame of AAG (Artistic Tiles), now placed on the outside of the Workshop, tells the history of Luís Cruz Guerreiro since 1976 untill now, in a Frame that uses several ceramic techniques of artistic Tiles paintig. It begins with the Ceramic Crayon, after glazed with Transparent Glaze and the Letters are glued at Hihg Temperature Burn, glazed with White Glaze. The narrative is in Comics Style.
Pormenores:
1976 foi a grande época de troca de revistas em quadrinhos. A compra semanal do "Mundo de Aventuras" era religiosamente cumprida, às quintas de manhã lá estava eu na papelaria de Alhos Vedros para comprar o "MA", nessa altura também comprava o "Jornal do Cuto" e "O Grilo".
Em 1984 resolvi fazer as minhas próprias histórias em quadrinhos, organizei um horário e trabalhava diariamente, sabendo perfeitamente que no mercado editorial Português de B.D. era quase impossível viver da B.D., exceptuando dois ou três casos... foi uma forma de sobrevivência mental, devido a estar desempregado e deprimido.
O engraçado é que o Zepe, desenhador e argumentista de B.D. que estava nessa altura em França, achou que o meu desenho teria possibilidades para ser publicado na revista "Metal Hurland Aventure" e fez-me um argumento em francês, que até hoje não percebi bem, e que ficou inacabado, pois coincidentemente nessa altura tive a possibilidade de entrar num curso de pintura cerâmica nas Caldas da Rainha no Cencal.
Essa autogestão de trabalhar sempre, haja ou não encomendas, perdura até hoje na Azulejaria Artística Guerreiro. A maior luta é acreditar sempre no nosso projecto, mesmo que tenhamos de lutar contra todas as adversidades, nunca poderemos deixar de acreditar em nós próprios.
"Nadando contra a corrente, só para exercitar...(Rita Lee)"
1985/1989, Caldas da Rainha, primeiro foi o Curso de Pintura Cerâmica no CENCAL, acabadinho de nascer, tudo novo a estrear. Depois foi o estágio de profissionalização nas Faianças Belo.
O trabalho numa fábrica de cerâmica, herdeira da tradição de Bordallo Pinheiro, mas cuja vertente era a comercialização das ideias revolucionárias em faianças, ou seja, pratos e travessas inspirados na genialidade desse Mestre da B.D. e da Cerâmica, foi para mim uma experiência inolvidável, devido principalmente a estar na secção de pintura cerâmica em série que era exclusivamente feminina, eu era o único homem que alguma vez tinha estado nessa secção desde sempre, disse-me o Chefe de Produção e delegado da CGTP.
O nível de automatismo em pintura das minhas colegas, algumas com mais de 20 anos de experiência, deixava-me abismado, enquanto por exemplo pintavam por dia 60 "Travessas de Espargos", eu pintava 10... uma coisa que nunca consegui dominar era o chamado "Pincel de Pelo de Cabra", que terminava em círculo e dava efeitos extraordinários, só essa técnica disse-me uma colega, demorava cinco anos a aprender.
Outra coisa curiosa é que nenhuma dessas colegas sabia desenhar o que quer que fosse, por isso quando havia algum painel em azulejos por encomenda na Fábrica o Chefe pedia-me para o fazer, o que era para mim uma alegria.
Uma vez o Chefe disse-me para fazer um painel que ele me disse ser "Sol e Mar", fiquei felicíssimo por ter a oportunidade de expressar a minha capacidade de criação e pedi para vasculhar nos Arquivos da Fábrica que já era centenária, em postais, desenhos e gravuras...mais de quatro horas depois fui apresentar todo contente o espólio que tinha descoberto e que daria um painel que se tornaria um marco naquela Fábrica. O Chefe olhou para mim com pena e disse-me que o painel era toponímico, e o "Sol e Mar" seria o texto a inserir dentro dum friso, fiquei sem respiração enquanto as colegas riam perdidamente das minhas veleidades artísticas.
Enfim, a Fábrica fechou pouco tempo depois por má gestão, não sem antes um dos patrões ter tido vários ataques de "epilepsia", que sucediam sempre na altura do final do mês e na secção de empacotamento, que era tipo um palheiro, cheio de palha onde se empacotavam as faianças.
Estranhei o caso, pois como tinha tido um curso de primeiros-socorros achei curioso que o Patrão sempre caísse confortavelmente no meio das palhas e começasse a estrebuchar. Na primeira vez que vi tal coisa nada disse, mas à segunda pedi ao Chefe para o ajudar pois a língua poderia obstruir-lhe a respiração e lá ficávamos nós sem o Patrão... levantei-lhe o pescoço e coloquei-o para trás para evitar a obstrução, enquanto ele olhava de soslaio para mim estrebuchando.
Vi que aquilo não era epilepsia coisa nenhuma, mas sim o pseudo-ataque de histeria, tirei-lhe a mão do pescoço e o ataque acabou ali mesmo.
Os colegas agradeceram-me e o Patrão também, quanto umas horas depois recuperou.
A Fábrica não pagava a tempo aos operários e eu fui falar com o Chefe que, como estava a viver num quarto e tinha os almoços e jantares pagos ao mês numa taberna perto da linha fêrrea, não podia estar um mês sem receber. Nessa altura, em 1987, ganhava o ordenado mínimo( 28 000$00) que dava para pagar 16 000$00 de refeições e 8 000$00 de quarto, sobrava-me 2 000$00 para o tabaco, que nessa altura fumava e optei por comprar tabaco de enrolar, que rendia mais e dava até ao fim do mês. Pois o Chefe disse-me que compreendia a minha situação, mas nada podia fazer, eu disse-lhe que deveríamos entrar em greve até nos pagarem os ordenados!
Que não, a Fábrica estava numa situação difícil e todos tínhamos de ajudar e de fazer sacrifícios. Disse-lhe que não podia, o mês estava a acabar e precisava do dinheiro para pagar o quarto e as refeições, isto no horário de trabalho, o Chefe liberou-me e disse que era por minha conta, o Sindicato nada tinha a ver com o meu caso.
Pedi-lhe a morada do Patrão e fui para a porta dele, decidido a só de lá sair quando me pagasse o ordenado em atraso. O apartamento do patrão era num bairro antigo, mas chique, das Caldas e toquei à campainha, pouco depois apareceu-me uma empregada do Patrão que me disse que o Patrão estava doente e que não me iria receber nesse dia, para voltar noutro dia...disse-lhe que precisava do dinheiro para o quarto e para as refeições e ali ficaria sentado à sua porta até que ele me passasse o cheque.
Não sei se foram três ou quatro horas que lá fiquei esperando, de vez em quando via abrir-se o orífício ocular do apartamento para fiscalizarem se o maluco já se tinha ido embora...Não fui, sou teimoso e também já tinha um part-time no "Atelier Argila", que se dedicava apenas à pintura de painéis de azulejos, que tinha sido inaugurado em 1986 e cujo Patrão, Amílcar Marques, me tinha dado a chave para trabalhar em regime livre, recebendo pelas horas de trabalho, uma espécie de autogestão, em que havia um Chefe, mas num ambiente muito liberal e com o horário que mais nos agradasse.
Eramos quatro artífices, três pintores e um vidrador e todos eram mais novos que eu, que na altura tinha 25 anos.
Um ambiente muito bom, e totalmente livre, em comparação com o horário da Fábrica, que era das 8h às 18h e aos fins de semana quando havia grandes encomendas.
Enfim, resumindo, o Patrão lá apareceu em roupão, disse-me que estava despedido, mas deu-me o chequezinho com os 28 contos de réis!
Falei com o Amílcar e disse-lhe que queria trabalhar a tempo inteiro no Atelier Argila, ele disse-me que me daria o ordenado mínimo, 28 000$00, com horário à minha escolha.
Aceitei imediatamente e procurei um quarto com serventia de cozinha, para poder poupar algum dinheiro, mas isso são outras histórias...
Apenas concluo, dizendo que, de 1986 a 1989, passei por seis quartos nas Caldas da Rainha e que cada um era mais complicado do que o outro, o pior foi um quarto nas traseiras duma taberna, cujas dimensões eram de 3 metros por 2 metros e meio e que em pleno Julho a humidade pingava em gotas pelo tecto, porque estava colocado numa barreira, e a pequena portinhola (único contacto com a luz exterior) da porta tinha 30 cm. À noite jogavam à malha GRANDE, contra a porta até à meia-noite e de manhã, não havia água quente na casa de banho antes das 8h, requeria por isso uma certa preparação mental para o duche frio...
Tudo para aprender a Arte da Azulejaria!
1989, é a abertura oficial da Azulejaria Artística Guerreiro, (esta parte do painel é dedicado aos meus pais; O Srº Chico e a Dona Júlia, Serpenses migrantes, trabalhadores da Indústria Corticeira, agora reformados) devido a um conjunto de factores coincidentes:
-Os vizinhos já muito velhinhos que viviam na casa do lado, o nº6 esquerdo, morreram...(as casas da Rua Duarte Pacheco em Alhos Vedros, foram construídas com 2 quartos, uma cozinha e uma sala, com um corredor que levava ao quintal, que tinha o tamanho das casas, que por sua vez davam para um corredor interno, onde existia um poço, agora fechado, o WC, era no fundo do quintal um cubículo de metro e meio por dois metros, com uma fossa no chão.
Os muros tinham um metro de altura e nos quintais cultivava-se hortículas e havia as árvores de fruto, limoeiros, laranjeiras e também loureiros. Isto na década de 30, 40 e 50 do séc. 20.
Na década de 60 desse século, devido ao crescente número de migrantes que vinham trabalhar para a CUF, as casas foram divididas ao meio, tendo uma entrada comum e duas entradas laterais, lado esquerdo e lado direito, por isso o nº 6, que os meus pais alugaram em princípios de 1970, era o lado esquerdo, ou seja o nº6, esquerdo, que era composto de um quarto e uma cozinha, era lá que nós os três viviamos, três quer dizer, quatro com o cão, O Benfica, outra coisa que eu também nunca percebi, pois o meu pai era do Sporting...
Os meus pais construíram no espaço do quintal um anexo que foi tornado cozinha e ainda uma casa de banho pequena, todo este espaço habitacional, tinha portanto em 1971/1972 as dimensões de 3 mt X 12 mt e assim vivemos alegremente até eu migrar para as Caldas da Rainha em 1985, quando os velhotes do lado morreram, os meus pais, devido a muita pressão da minha parte, lá conseguiram alugar o lado direito do nº 6, retomando a casa a sua antiga configuração, foi lá nesse espaço que foi fundada a Azulejaria Artística Guerreiro!
Dezenas de painéis, foram produzidos na AAG, nas vertentes Clássica e Linha Livre, de 1989 a 1992...
Feiras, Exposições e Mostras de Artesanato, foram o que mais fiz desde 1988, mas em 1992 aconteceu uma coisa muito importante na minha vida e ela chama-se Tininha, a companheira que vive comigo até hoje. A Brasileira mais Portuguesa de todo o Mundo Lusófono e uma grande amiga. Porque o Amor não é nada sem a Amizade e a Amizade requer também Amor, para que continue.
Em 2000 aluguei a casa contígua, que se encontrava desocupada há sete anos e precisava desesperadamente de arranjos, pois estava em risco de derrocada. Com o resto das economias minhas e dos meus pais, lá fizemos um arranjo em 2000, que assegurou a sua estabilidade física, preservei ainda as árvores do seu jardim, um loureiro, duas laranjeiras e uma videira, que dá uma óptima sombra durante o Verão, plantei um marmeleiro, uma nespereira e uma magnólia que teima em não crescer. O meu pai, planta uns tomateiros, cebolas, pimentos, salsa, coentros e malaguetas, lá nesse espaçozinho de 3mt x 4mt, onde agora coloquei este painel exterior.
Ele até há pouco tempo, plantava numa horta urbana, mesmo em frente da Discoteca Kleópatra, que foi agora urbanizada e assim sempre mantém o contacto com a terra.
Em 2000, abri os Arquivos Guerreiro, uma forma pomposa de chamar a uma mini-Galeria onde fiz uma série de Exposições com Artistas do Concelho da Moita.
Foi Delei e Nanda que inauguraram os Arquivos Guerreiro e Delei fez mais três Exposições nos "AG", o Sr. Brito deu a todas as exposições uma divulgação excelente, no jornal "O RIO" e tornou-se além de meu amigo, amigo de Delei Amorim o grande Artista Brasileiro que agora está no México a tirar um Doutoramente em Arte e que já fez também muitos trabalhos em Azulejaria Artística, na "AAG".
1998 foi o ano em que "O ESCUDO", boletim oficial da "AAG", entrou no ciberespaço, por meio de uma mão amiga que lhe deu a linguagem binária adequada ao esboço gráfico que eu pretendi.
Escudo, por ser o escudo do Guerreiro e também porque queria preservar o nome da antiga moeda nacional, que em 2000 passou a ser o Euro.
O carácter bilingue (Português e Inglês) tem mais a ver com a possibilidade de dar à língua mais falada do Mundo, o Inglês, a hipótese de entendimento da língua mais expressiva do mundo, o Português. Em 2001 fiz já eu, toda a página e publiquei-a em HTML, no SAPO, onde está até hoje hospedada, junto com as suas duas irmãs, "ALBUNS" e "Arquivos Guerreiro", acrescentei-lhe um Blogue, "Notícias AAG News", para mostrar conteúdo multimédia, nomeadamente filmes que estão hospedados no YouTube e também para haver uma interacção com os leitores.
O ESCUDO é ainda a página mãe e boletim informativo da AAG, apesar dos seus suplementos temáticos e isto acontece desde 1998.
Em 2001 aconteceu a minha primeira exposição em Brasília, no foyeur do Teatro Nacional e em 2006 a segunda exposição no Museu de Arte de Brasília, inventei por isso um novo Super-Herói:
O Homem Azulejo, que por onde passa deixa um rasto de Ladrilhos!
Também é conhecido pelo Paineleiro Português e nunca um i foi tão importante para o entendimento duma palavra.
Paineleiro; pintor de painéis de Azulejos, paneleiro, é uma coisa completamente diferente...
...o Fado do Paineleiro, brevemente a ser gravado, marca os 20 anos de dedicação à Arte da Azulejaria Artística, ou seja 20 anos a "apaineleirar" Portugal e o Mundo.
Este Fado é a minha demonstração de "Orgulho Paineleiro", ou "Panel Pryde", em Inglês.
O video estará disponível no YouTube, logo que possível!
Rotas da Cerâmica, projecto que passa também pela possibilidade de Artistas de outras nacionalidades passarem pela AAG, para especialização na área cerâmica, neste caso a Azulejaria Artística e pela minha especialização noutras cerâmicas de outros Países, noutras vertentes cerâmicas. Delei já fez dois estágios na AAG em que aprendeu a técnica ancestral da Azulejaria tradicional Portuguesa e adicionou-lhe o seu génio criativo, estou receptivo a que por permuta de conhecimentos, esta experiência se repita com outros ceramistas, especialmente do Mundo Lusófono.
O PPART – Programa para a Promoção dos Ofícios e das Microempresas Artesanais é uma iniciativa governamental aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 136/97, de 14 de Agosto, cuja finalidade é valorizar, expandir e renovar as artes e ofícios em Portugal.
Luís Cruz Guerreiro, é artesão reconhecido por este instituto, nº 110694, na área 02.06 - Pintura Cerâmica.
A Azulejaria Artística Guerreiro é uma Unidade Produtiva Artesanal, reconhecida por este instituto, carta nº 120611.
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