quinta-feira, janeiro 17, 2008

Revista Foral 2014 #1-O Artigo sobre os Painéis do Forcas Bar


Recriação Histórica em Painéis
Os Painéis do Forcas Bar
A Cristina e o Jorge, proprietários do espaço que seria designado como “Forcas Bar”, contactaram-me em 1992 para um projecto que desde logo me emocionou, encomendaram-me quatro painéis de reconstituição histórica sobre Alhos Vedros no séc. XV, painéis esses a serem colocados no “Forcas Bar” que, devido à sua localização no antigo campo da forca, inspirou os seus proprietários a regressar ao passado.

A partir do facto real do Rei D. João I se ter refugiado em Alhos Vedros para fugir à peste que grassava em Lisboa, criei uma ficção histórica, que me proporcionou uma
oportunidade de realizar a reconstituição história mais importante que fiz até hoje.

No trabalho de pesquisa foi necessário falar com pessoas que conheceram a Vila de Alhos Vedros noutros tempos e que sabiam estórias antigas sobre os locais a retratar, dos quais destaco o Cineasta amador Alhos Vedrense já falecido, o Sr Diogénio, que me forneceu valiosas informações neste projecto, e também o Padre Carlos, pároco de Alhos Vedros, que, através do seu livro “Contributos para a História de Alhos Vedros” (que já tem três edições) , contribuiu e muito para que a execução dos trabalhos em Azulejaria tivessem maior credibilidade, porque esse livro contém informações baseadas em documentos, o que tornou mais científica a pesquisa histórica que foi necessária para a execução destes trabalhos.

Os quatro painéis de Azulejos do “Forcas Bar” são:

1-A chegada do Rei D.João I a Alhos Vedros.

A praia e a orla costeira avançava desde o Cais de Alhos Vedros até Santo António (isto é uma mera especulação), por um esteiro que também passava defronte à Igreja Matriz de Alhos Vedros e e isso levou-me a crer que será essa uma das razões porque a Igreja está de costas viradas para a Vila, a outra, pelo que soube recentemente, será porque está voltada para Oriente como o seriam todas as Igrejas antigas ou Mesquitas, que foram depois transformadas em Igrejas Cristãs (Católicas), como leva a pensar que se tenha passado com a Igreja Matriz de Alhos Vedros, principalmente devido às cúpulas encontradas aquando do seu restauro de 1948, e que se encontravam cobertas por um telhado que as escondia.
Em conversa que tive na altura com o Padre Carlos, também ele amador da história de Alhos Vedros, contei-lhe sobre a vegetação tipicamente marinha que tinha encontrado no campo da Forca e também em frente da Igreja, quando o “Parque das Salinas” ainda não tinha sido construído, e também no espaço em frente da Igreja onde ficava uma antiga salina desactivada, que enchia e vasava ao sabor das marés. Pareceu ao Padre Carlos que o rio realmente deveria em épocas distantes como aquele ano de 1415 a que se reportam os painéis do “Forcas Bar”, avançar terra adentro e especulei se poderia esse esteiro ir até Stº António, mas o Padre Carlos não soube responder.
Este painel que retrata a chegada do Rei a Alhos Vedros, foi por mim localizado na praia junto à Igreja Matriz e não no cais, para dar assim uma relevância à própria Igreja.
As Caravelas são do tipo das Caravelas que descobriram a Madeira, ou seja, o tipo de Caravelas de Vela Latina que seriam muito parecidas com os Varinos de grandes dimensões, que antes navegavam no rio tejo e dos quais a Pombinha é hoje o último exemplar que o Concelho da Moita ainda possui.
Todo o ambiente é ficcionado, com personagens num ambiente festivo de recepção ao Rei e Comitiva.

2-O julgamento dum condenado nos Paços do Concelho de Alhos Vedros.

Este painel retrata um julgamento nos antigos Paços do Concelho de Alhos Vedros, vulgo Cadeia Velha.
Presumo terem sido os primeiros Paços do Concelho, devido à sua construção ser de dois pisos e presumo que também teria masmorras na cave, pelo que vi quando as ruínas da Cadeia Velha ainda estavam de pé e como poderão ver no meu Blogue; http://azulejariaartisticaguerreiro.blogspot.com/ em video que Lídio Coelho, meu grande amigo e colega de Teatro Amador na Velhinha, filmou na altura em que fiz os painéis do Forças Bar, 1992.
No Primeiro andar, que já tinha derrocado, mas que o Sr. Diógenio, meu colaborador para este trabalho, me disse existir e que me explicou detalhadamente como seria a sua construção, porque a tinha visto ainda de pé, fiz o desenho do que seria a Cadeia Velha reconstruindo a sua versão original.
A ficção criada a partir da reconstituição histórica dos Paços do Concelho foi a de o Rei D. João I fazer neste caso um julgamento público “especial” para mostrar à população de Alhos Vedros o exercício do seu Poder Régio.

3-O enforcamento dum condenado no campo da forca de Alhos Vedros.

O chamado campo da forca, agora designado “Bairro Gouveia” foi a maneira como sempre ouvi chamar a esse local, por isso imaginei que fosse aí que se enforcavam os condenados.
A ficção criada foi que uma execução tivesse sido efectuada quando o Rei D. João I esteve presente com a sua comitiva nesse ano de 1415.
Um palanque foi por isso montado para a Realeza observar este triste espectáculo.
O Rio Tejo serve de fundo, enquanto o desgraçado sobe ao patíbulo e a sua família chora desconsoladamente na areia do campo da forca. À direita um cavaleiro lê a sentença, enquando vários Alhos Vedrenses de então observam esta possível cena...

Note-se que nada desta reconstituição histórica tem base científica e histórica, tentei apenas tornar plausíveis estes acontecimentos.

4-Painel Tríptico com três cenas do quotidiano rural Alhos Vedrense em 1415.

A partir de fotos cedidas pelo “Rancho Etnográfico de Danças e Cantares da Barra Cheia” e de foto cedida pelo Sr. Diogénio sobre as Salinas reconstitui a ruralidade Alhos Vedrense de então. Trajei pois as personagens com vestes do séc.XV e coloquei-as nas Salinas, junto ao Poço “Mourisco” e perto do Pelourinho, numa composição romântica dum Alhos Vedros nostálgico e, esperemos, não muito desfazado da realidade, no ano da graça de 1415.

Espero que com este texto e as imagens dos painéis do “Forcas Bar” possa ter contribuído para esse projecto que é esta revista “Foral 2014”, prestigiante e oportuna iniciativa, nascida da “ALIUSVETUS” – Associação Cultural História e Património, fundada recentemente em Alhos Vedros e que vem enobrecer a nossa querida Vila.

Luís Cruz Guerreiro
As fotos e digitalizações dos painéis e desenhos foram feitas por, Carlos Gonçalves.

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