sábado, janeiro 05, 2013

Atual: Luís Cruz Guerreiro no Canal Brasil 12.12.12

Malditos Cartunistas:

No último episódio da temporada, uma viagem até o solo europeu. O desenhista português Luís Guerreiro inovou ao resolver montar uma azulejaria para fazer histórias em quadrinho.

Link #1: http://globotv.globo.com/canal-brasil/malditos-cartunistas/t/veja-tambem/v/quadrinhos-e-azulejos/2291352/

Link #2: http://canalbrasil.globo.com/programas/malditos-cartunistas/videos/2291352.html



O video foi posto no YouTube pelo camarada Livresco camarada do meu camarada Paulo Guinote, aos dois camaradas o meu obrigado camaradas !

Entrevista de António Tapadinhas a Luís Cruz Guerreiro no jornal "O RIO" - Azulejos que Contam Histórias

Publicado no jornal "O RIO", agora lamentávelmente extinto na sua edição digital como antes o tinha sido na edição em papel e em eu colaborei ativamente com duas coleções de cromos em azulejos. Ao seu diretor Brito Apolónia e a todos os seus colaboradores o meu agradecimento !
Este Blog irá publicar a divulgação que o RIO fez do meu trabalho e dos artistas que passaram pelos "Arquivos Guerreiro".

Cultura : Entrevista de António Tapadinhas a Luís Cruz Guerreiro ■ D´Arte – OUTRAS CONVERSAS | AZULEJOS QUE CONTAM HISTÓRIAS
em 2012/9/4 0:50:00
Por António Tapadinhas
Luís Cruz Guerreiro não deixa ninguém indiferente. É uma personalidade extrovertida, que tem opiniões e não tem receio de as dar, politicamente correctas ou nem por isso. É possuidor de um humor corrosivo, não inócuo, sempre atento ao seu país e às pessoas que o conduzem não se sabe bem para onde.
Azulejista e Autor de Histórias em Quadrinhos, como gosta de ser conhecido, tem a sua oficina em Alhos Vedros, na Rua Duarte Pacheco, n.º 4 e 6, website www.azulejariaguerreiro.com, e-mail azulejariaguerreiro@gmail.com.
A entrevista que realizámos com o artista no seu local de trabalho, como devem calcular, foi tudo, menos aborrecida ou enfadonha…


RIO - Começaste pela Banda Desenhada. O curso de pintura cerâmica que tiraste nas Caldas da Rainha foi a ponte que te fez regressar às origens, ligando as tuas duas paixões. Conta-nos como aconteceu o processo
A BD, (histórias em quadrinhos, como prefiro designar), faz parte integrante da minha vida desde que a descobri.
Toda a minha existência até aos 6 anos de idade se baseava nas brincadeiras com os meus vizinhos (quase todos ciganos), que viviam na travessa da Sociedade nº 43, um bairro operário à maneira dos bairros da Baixa da Banheira e Alhos Vedros que foram feitos para albergar famílias de migrantes que trabalhavam na indústria corticeira e na CUF... Os meus pais trabalharam na Corticeira Ibérica e na antiga fábrica do Valadão, que depois foi designada fábrica do banco e depois Silcorck.

O facto de ter tido uma poliomielite aos 16 meses, fez com que todas as manhãs fossem gastas em tratamentos no Hospital da Estefânia em Lisboa. Isso aconteceu diariamente até eu ter 12 anos.
No Hospital, porém, e apesar da tristeza com que lá ia e ainda pior a da minha mãe, devido aquele complexo de culpa que advém do sentido judaico-cristão inerente à nossa existência como portugueses... (Digo sofrimento, porque aquilo eram eletrochoques e massagens e raios ultra violetas, um sofrimento naturalmente já sempre esperado, mas muito perturbador...), houve um dia em que um rapaz mais velho que eu, deveria ter uns 10/12 anos, estava a ler uma revista, o "Mundo de Aventuras". Tinha um monte delas em cima duma cadeira. A felicidade de repente apareceu-me em forma de arte popular e comecei a apreciar ir a Lisboa porque todo um novo universo se tinha aberto de repente diante os meus olhos. Comecei a comprar revistas em bancas de alfarrabistas populares (aquelas verdes que existiam no Barreiro, e nos arcos da Praça do Comércio. Fiz novas amizades com a malta que trocava e me emprestava revistas e começou aí uma nova fase de vida mais social e recreativa (1974 a 1979), com verões inteiros no Cais Novo de Alhos Vedros a mergulhar e a apanhar caranguejos, que é até hoje o meu marisco preferido.
Agradeço tudo isto ao rapaz que me emprestou os "Mundo de Aventuras" no hospital da Estefânia!

As Caldas da Rainha surgiram na minha vida devido à crise de 1982/84. Tinha parado de estudar devido à minha inépcia para com a vertente que tinha optado, a Área de Saúde, que daria depois para seguir medicina nas suas várias nuances, por exemplo Enfermagem... Foi mau, porque não tenho a mínima vocação para tão nobres profissões e matemática nunca foi o meu forte, apesar de ser nos cadernos de matemática, físico-química e bioquímica do 9º ao 11º ano, que tenho os melhores desenhos desse começo dos anos 80 do séc. 20!

Em 1985, surgiu nas Caldas da Rainha um dos primeiros centros de formação profissional de Portugal: O CENCAL.
O Centro de Formação Profissional exclusivamente dedicado a todas as vertentes da indústria cerâmica era uma fábrica modelo que fazia desde as pastas cerâmicas, ao design das peças e a sua decoração. As cores e óxidos eram fabricados no sofisticado laboratório do CENCAL. Era uma fábrica modelo acabadinha de estrear com os melhores Mestres de todas as vertentes da Cerâmica que existiam no país, sendo que nessa altura as Caldas da Rainha eram um referencial da cerâmica nacional, de que resta atualmente a Faianças Bordallo, que felizmente foi salva "in-extremis" pelo Grupo Vista Alegre.
O que gostei mais no curso que tirei no CENCAL foi a azulejaria. As suas semelhanças com a BD/HQ são notórias. A narrativa, os elementos figurativos realistas. Tudo me pareceu similar com a vantagem de ser um elemento decorativo que podia ser usado em superfícies exteriores e interiores duma maneira quase eterna, devido à sua impermeabilidade!
Depois de concluído o curso, fiz um estágio numa fábrica de cerâmica na linha do Bordallo. Foi uma experiência interessante mas nada tinha de criativo. Aprendi como funciona um ambiente fabril, com as suas hierarquias e era o único homem que trabalhava na seção de pintura - o resto eram mulheres, com uma experiência de 7 a 20 anos nas técnicas específicas de pintura. A proporção de trabalho que elas produziam por dia era de 100 peças, por exemplo, duma travessa de espargos, para 4 mal pintados por mim...

Entretanto conheci o "Atelier Argila", que tinha inaugurado em 1986 e dedicava-se exclusivamente à reprodução de painéis dos séculos XVII/XVIII com as 4 cores base desse período, o Verde, o Amarelo, o Vinhático e o Azul. Comecei a trabalhar lá em "part-time" e aos sábados e domingos. Como o trabalho era muito e tempo de descanso era pouco, despedi-me das Faianças Belo e comecei a trabalhar a tempo inteiro, mas com um horário que eu elaborava. O Amilcar, dono do espaço dava-nos a possibilidade de escolhermos o horário, porque todos os artesãos tinham uma chave e faziam o trabalho com o ritmo e a qualidade que conseguissem. O meu ritmo de trabalho nunca foi grande, mas a qualidade superava esse pormenor. Os trabalhos eram primeiro assinados com as iniciais, mas depois o Amilcar descobriu que os clientes queriam o nome dos autores nas peças e começamos a assinar com o nome e a marca Atelier Argila começou a fazer sucesso. O ordenado que eu ganhava era o mesmo que nas Faianças Belo, 28 contos de reis... Dava à justa para pagar o quarto e a alimentação. Era o ordenado mínimo em 1987... Belos tempos!

RIO - Já alguém tinha tentado fazer BD (histórias em quadrinhos, como preferes) em azulejo?
Penso que não... Quando tinha uma gama de cores catalogada suficientemente lata, pensei: ora bem... isto já dá para fazer uma BD/HQ tipo "comic-book" em azulejos. Depois o Carlos Gonçalves tirou as fotografias, fiz o grafismo da revista, fui ao Rio de Janeiro e imprimi a primeira revista de Histórias em Quadrinhos de Ficção Ciêntífica em azulejos policromados. Antes, só nos Flintstones apareciam aquelas revistas em pedra, mas eram mais pesadas ainda.

RIO - Quais as dificuldades técnicas que encontraste e tiveste de ultrapassar?
Na arte final em azulejos e no grafismo digital foi tudo bastante fácil. A seleção de cores na gráfica foi mais difícil e não ficou exatamente como eu pretendia. Deveria ter usado um formato digital diferente e a gráfica deveria ter utilizado um corretor de brilho com melhor performance. As cores cerâmicas estão, como te disse, catalogadas e isso é fruto de experiências desde 1989 até agora, por isso não tenho nenhum problema em manter as cores de prancha/painel para prancha.
Todas as cores catalogadas da Azulejaria Guerreiro e os vidrados são segredos sagrados apenas revelados a iniciados. É tipo uma maçonaria cromática química onde só entram eleitos e que têm de passar por diversos testes para poder pintar aqui na minha azulejaria. O primeiro de todos é essencial, e quem não o passa não tem mais que uma oportunidade. Tens de desenhar uma mão na minha presença.
O objetivo supremo é atingir-se a alquimia, ou seja retirar ao Ouro o óxido. Como no óxido de cobre, se o cozeres numa atmosfera redutora, sem oxigénio, ele fica de novo cobre, com a prata é o mesmo, mas o Ouro não oxida. O problema está aí!

RIO - Fala-nos um pouco do que vai ser a saga completa de “Jerílio no Século 25”, 5 episódios, dos quais foi publicado o primeiro, que se chamou “Kron o Mercenário”.
5 Episódios, não é por acaso, nada é por acaso, O V Império não será um acaso, por isso 5 episódios. O Império da Lusofonia no contexto duma confederação Galática que abrange sistemas estelares, Arquistas, Anarquistas e Anomistas.
Episódio 1- O prelúdio da saga com a morte do príncipe que seria o sucessor do Imperador Zraquiano, que abrange 4 planetas do sistema Zrakiano com civilizações conhecidas... mas o sistema tem 9 planetas.
Episódio 2- O Imperador, que é eleito pelos quatro planetas da federação monárquica Zrakiana, tem a sua filha presa por Repto, o reptilóide, e o seu filho foi morto por Kron, o mercenário. O objetivo primeiro dele é salvar a filha e tornar a monarquia constitucional Zrakiana numa monarquia Absolutista sucessória.
Episódio 3- A meditação de Jerílio e o seu crescimento espiritual acontecem também por acaso, a descoberta de civilizações com níveis materiais que vão desde o etéreo à rocha mais dura provoca um conhecimento inesperado em Jerílio, que, através do Cristal do Tempo, descobre que afinal é um humanóide de um planeta que está situado no sistema solar, o planeta Terra.
Episódio 4- A Anomia que se vive no antigo sistema monárquico Zrakiano, transforma-se em Arquias, Anarquias e Planetas Religiosos mono e politeístas...
Episódio 5- A Terra 2500 depois de Cristo - todas as fases de desenvolvimento desde o primeiro contacto com os alienígenas da Confederação Galática em 2015 e a instauração dum regime vigiado pela CG, em que durante 500 anos não é permitido o dinheiro, provoca um desenvolvimento acelerado no planeta Terra. A solução para os Arquistas é a construção de Cidades Flutuantes que orbitam a Terra, onde a lei não é tão exigente a partir de 2222. Em 2500 faltam 50 anos para que o regime cesse. Tudo poderá então acontecer. O elemento memória é aqui o mais importante (A memória coletiva dum ser ou duma galáxia ou do universo é um conceito que tenho sobre Deus).

RIO - Vejo que já tens o poster em azulejo do segundo episódio, com o título “Objetivo Asteroide – REPTO”. Quer dizer que já completaste as pranchas que compõem a história?
A fase de desenho está quase completa, depois falta a Arte Final em azulejo policromado.

RIO - Para lá das diversas mostras dos teus trabalhos no Brasil, sei que fizeste uma História em Quadrinhos para a revista carioca "Tarja Preta" com o Capitão Bacalhau e o Capitão Presença de Arnaldo Branco. Queres desvendar-nos um pouco da história?
Quando fui buscar as revistas no Rio de Janeiro, fiquei hospedado na casa do Eduardo Souza Lima, o editor da revista carioca "Zé Pereira" e ele levou-nos a conhecer a loja do Matias Maxx, que é especializada em História em Quadrinhos, levei a capa em azulejos do Jerílio para lhe mostrar e ele ficou maluco com a ideia da possibilidade de se fazer BD/HQ em azulejos. Deixei-lhe algumas revistas para ele vender na sua loja e fui convidado a participar no n.º 7 da revista "Tarja Preta" que saiu com 182 páginas.
O Matias Maxx é um ativista da legalização da canabis no Brasil e o Arnaldo Branco criou um super anti-herói que é a cara do Matias Maxx e permite a outros desenhadores que utilizem essa personagem, desde que seja citado que ele é o criador do Capitão Presença. Usei a personagem como acompanhante do Capitão Bacalhau, que é uma criação minha. O Capitão Bacalhau é ele também um super anti-herói, mas, ao contrário do Capitão Presença, o Capitão Bacalhau é um ativista da liberalização da importação de vinhos portugueses para o Brasil, é por isso uma sátira.
(O preço que é cobrado pelos vinhos portugueses no Brasil é exorbitante, devido às taxas absurdas que o governo brasileiro impõe a esse produto de primeira necessidade, que é o vinho português, o melhor do Mundo na minha opinião. Essas taxas não são cobradas à Argentina e ao Chile porque pertencem ao Mercosul... mas os vinhos Argentinos e Chilenos são monoculturas e a alma do vinho português é as misturas de castas que o transforma em néctares sempre diferentes, que variam de região para região e de fabricante para fabricante em cada uma das nossas múltiplas regiões vitivinícolas).

RIO - Tens sido reconhecido nacional e internacionalmente como um artesão e, mais do que isso, como um artista inovador a diversos níveis. Qual o trabalho que gostarias de fazer para que o Concelho da Moita ficasse no panorama artístico da Azulejaria?
Gostaria que a Câmara Municipal da Moita usasse na toponímia do concelho o azulejo, como foi utilizado no Largo Conde Ferreira, na Moita, na Praça da República e no Largo da Misericórdia de Alhos Vedros, por exemplo. A durabilidade é garantida e as cores do município seriam usadas, o que traria uma mais valia estética e uma diversidade policromática que contrastaria com a uniformidade do uso das placas toponímicas em mármore.
Outra ideia seria a CMM permitir que o uso de painéis de azulejo personalizados pudessem ser utilizados como pedras tumulares do cemitério municipal para que houvesse a possibilidade de escolha entre o mármore e o azulejo. A durabilidade e montagem dos painéis em cimento armado são similares à durabilidade do mármore ou pedra, a impermeabilização é garantida e os preços seriam praticamente os mesmos praticados pelos marmoristas.
Durante alguns anos tanto a CMM como a Junta de Freguesia de Alhos Vedros e algumas coletividades e associações ofereceram azulejos individuais ou mesmo pequenos painéis de 2 ou 4 azulejos como prémios em eventos de vária ordem. Senti com pesar a perda desta tradição e a opção por outro tipo de materiais entre os quais a pirogravura. Essa descontinuidade na oferta de azulejos por estas entidades representou uma grande quebra de encomendas o que tornou ainda mais difícil a minha profissão.

Felizmente a página que publiquei na Internet e a publicidade no Google Adwords -, colmatou essa quebra porque tornou global o meu trabalho e, atualmente, recebo encomendas de todas as partes de Portugal, sendo que o Brasil está-se a tornar um bom mercado para a azulejaria clássica da Azulejaria Artística Guerreiro e será quiçá o próximo passo da Azulejaria Guerreiro a passagem da oficina de Alhos Vedros- PT, para Ribeirão Preto, SP-BR.
Portugal perde um artista mas o Brasil ganha um cidadão e eu recupero uma Pátria que fala português e onde me sinto tão ou mais português do que aqui na minha Pátria perdida entre estas pseudo uniões e, quiçá, federações europeístas com que não me identifico. Como dizia Fernando Pessoa, que depois foi cantado pelo Caetano Veloso, "A Minha Pátria é a Minha Língua", sejamos Imperialistas da Lusofonia então!

Esta foi a entrevista mais politicamente correta que consegui para "O RIO"; agradeço ao António Tapadinhas ao Brito Apolónia e aos leitores deste jornal de referência que tiveram a paciência de a ler. Obrigado.

Luís Cruz Guerreiro com estas últimas palavras poupou-nos o trabalho de fechar esta entrevista, porque já lá tem a folha de ouro que não oxida: a amizade e o reconhecimento devidos a todos os que, pelo seu trabalho, tornam o nosso país um local mais digno para se viver!
Então, que viva o Império da Lusofonia!

Nota António Tapadinhas opta por escrever na ortografia antiga

A entrevista no RIO pode ser vista aqui: http://www.orio.pt/modules/news/article.php?storyid=12072