quinta-feira, novembro 10, 2011

Capitão Bacalhau na Revista Brasileira "Tarja Preta"

Fiz uma História em Quadrinhos para a revista carioca "Tarja Preta" com o Capitão Bacalhau e o Capitão Presença que está a estourar no Brasil, podem ver aqui a entrevista completa ao editor Matias Maxx, que saiu na revista VICE!



"Se tem uma coisa pra qual a maconha funcionou no Brasil, foi pra HQ. Prova disso é a sétima edição da Tarja Preta, que acabou de sair juntando centenas de quadrinhos chapados e dois anos depois da #6. Pressa pra quê, não é mesmo, pessoal? Na brochura de lombada tipo livro e capa mais resistente vem o garoto-propaganda Capitão Presença e montes de histórias inéditas de quadrinistas do Rio Grande do Sul ao Maranhão, além da matéria póstuma mais legal jamais feita sobre o Speed Freaks. E sequelas, afinal… A seguir o que o Matias Max, um dos editores, tem a falar sobre esse presente que acaba de coroar um ano bem do esquisito. A saber: graças a essa chiqueza toda agora ele tá devendo R$ 10 mil pra gráfica.



Que ano foi esse, hein? Passeata da Maconha dixavada, primaveras, cânceres, assassinatos de ambientalistas, homofobia brasileira trincando no UFC, polícia, nazis… Mas aí a boa notícia: LANÇOU A TARJA PRETA 7! O que falta agora, nessa reta final pro brasileiro 2011?


A Tarja Preta é o grande monolito dos quadrinhos brasileiros. Ela está presente em todos os grandes avanços ou retrocessos recentes da humanidade. Sei lá, quando a gente começou em 2004, a gente não tinha quadrinhos nem na banca, nem na livrarias, nem em lugar nenhum. A parada rolava praticamente só na Internet, e na época não tinha nem iPad pra galera poder ler cagando. Hoje em dia você tem uma porrada de publicações e um monte de quadrinhista sendo publicados por editoras grandes, e também um monte de novas editoras. Mas acho que no geral o povo tá mais careta e bunda mole do que nunca. E acho que mais do que nunca é importante a Tarja Preta estar na pista pra provar que não existe limite pro humor, e que independente da posição política de cada um, temos que militar contra a caretice e pela liberdade de expressão.


Mas por que tanta demora da sexta pra sétima? Tudo bem que ela tá mais bonita e tal, impressão mais chique…


Então, quando começamos a colocar a marca Tarja Preta na pista, em 2003, éramos jovens, solteiros e desempregados. Daí fizemos duas animações e um curtinha nesse ano. Em 2004 lançamos três revistas, no intervalo de dois meses cada… Daí em 2005 saiu mais uma e em 2006 eu abri a La Cucaracha — e aí fudeu, as revistas passaram de bimestrais para bienais. Porque apesar de alguns babacas acharem que eu estou rico, estou é enrolado pra cacete com essa vida de pequeno empresário… Enfim, voltando à Tarja Preta, o lance é que ela envolve muita gente, muitos colaboradores, ninguém entrega no prazo… Aí eu praticamente tenho que esperar todo mundo entregar suas histórias para começar a vender os anúncios e orquestrar os lançamentos. Antigamente eu que fazia praticamente a porra toda sozinho, mas desde a última edição o Juca e o Daniel Paiva, que são os outros editores, começaram a me ajudar com a diagramação, porque nesses 8 anos o malandro do Juca fez DUAS faculdades (Jornalismo e Design) e não tinha escapatória pra diagramar a parada. Mas é foda, anteontem eu tava folheando a revista no lugar mais adequado (o trono) e percebi que nesse atraso todo a gente acabou esquecendo uma HQ inédita do Adão Iturrusgarai, na qual ele conta uma história em que o Otto Guerra vai num peep show e enfia a mão na porra. Puta sequela dos três!!!


A tiragem continuam em “5 mil porque você é louco”? [ele disse isso na última vez que falou com a VICE]


Nessa aqui a gente deu uma maneirada — imprimimos 2 mil só. Mas numa qualidade super melhor, num formato de livrinho, mais durável e competitivo, para fazer bonito nas livrarias. Mas o que vi nesta última Comicon é que apesar de todas as outras publicações também estarem com uma alta excelência gráfica — Golden Shower, Prego, Kowaslski, a maioria imprime menos de mil exemplares. Então a gente continua sendo os visionários loucos e endividados.


Fora que tem uma página + duas histórias inteiras repetidas, entre as folhas 99 e 114. E história do Schiavon recomeçando do meio, achei isso genial, a sensação de dejavú sentida mesmo que sóbrio. Parabéns!


Acho que você foi premiado com uma revista cagada da gráfica, porque a 99 é uma HQ do Schiavon, depois vem a do MZK e a do Guazelli que termina na 114. Guarda essa edição que daqui a uma década pode valer mais que as outras no eBay! [Risos] Sequela, sequela mesmo nesta edição foi a gente ter esqeucido a HQ do Adão. Vacilo nosso que estou revelando com exclusividade para a VICE. Ainda nem contei pro Adão, mas ele tá na Patagônia mesmo e vai demorar pra ver a revista [Risos]


É impressão minha ou a revista é quase inteira composta por trabalhos de cariocas e gaúchos, com poucos paulistas? Puta sacada também!


Cara, a gente sempre teve a maioria dos nossos colaboradores baseados no Rio, Sampa e Porto Alegre. Mas nesta edição tem o Bruno Azevêdo, do Maranhão, o Luiz Guerreiro, de Portugal (que faz quadrinhos em azulejos, dá pra acreditar???), o Pablo Carranza, que também é do Nordeste, o Rômolo, de Curitiba, e o Gomez e o Evandro, que são do Planalto Central. De Sampa tem o MZK e o Schiavon, que são o nosso time de ouro, mais o ETE — que na real é de Campinas. Podes crer, nunca tinha pensado por esse lado, na real tem um monte de gente que colabora pra Tarja que mora ou morou em Sampa, mas poucos que são de lá de verdade. Faz sentido, se você for ligar na MTV em qualquer época, você vê um monte de bandas que se mudaram pra Sampa pra fazer a carreira, mas que na real são de outras partes do país. Aliás, qual a última banda legal que saiu de São Paulo mesmo??? O IRA?? [Muitos risos]


E esse elenco todo, é tudo na broderagem?


Tudo na broderagem. Se eu tivesse pago os colaboradores nas primeiras edições, infelizmente jamais poderíamos ter vendido a R$2 ou R$5. O mercado de quadrinhos é ingrato pra cacete. Pra tu ver, as únicas pessoas dos quadrinhos que se deram bem foram fazendo outras coisas, como o Mutarelli — que virou autor, ator e cineasta. Quando a Tarja era mais vagabunda e barata, a gente enfrentou vários problemas de distribuição, pois ninguém queria distribuir uma revista em que tivesse uma margem de lucro pequena. A nossa ideia agora, que a revista tem uma qualidade melhor e um preço de capa maior , é juntar uma grana para pagar a galera, nem que seja fazendo um churrasconha maneiro. A gente também tá lançando uma linha de camisetas, que por enquanto tem estampas do Danilo, do Capitão Presença e do MZK. Nesse produto, como rola uma margem de lucro maior, os artistas são remunerados. Mas sei lá, o que eu vejo é que na maioria das vezes os artistas precisam de veículos como a Tarja para desovar suas HQs e conquistarem fãs, pra depois juntar todo esse material e vender para uma editora em forma de álbum. Mas ainda assim, eu sempre ouço reclamação."

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ENTREVISTA POR BRUNO B. SORAGGI

IMAGENS: REPRODUÇÃO